segunda-feira, fevereiro 19

a décima primeira tormenta.

É como se morrer agora, exatamente às 15:01 de uma tarde de segunda feira, não fizesse diferença.

Poderia pensar por dois minutos que sentiria falta dos meus amigos e família, que não fiz tudo o que deveria fazer, nem vi tudo o que queria ver. Que não sai do meu país e não tive um amor de verão que possa contar em alguma mesa de bar pensando no que teria acontecido se o verão durasse mais de três meses. Poderia pensar que reclamo com tudo na mão, que eu faria falta pra alguém, que eu poderia desestabilizar alguma coisa.

Mas sabe quando não basta?

Não basta fazer falta. Eu pensar que minha presença pode ter importância pra meia dúzia de pessoas não é suficiente pra me manter aqui. Não digo isso com desdém quanto a ser querida; não, de forma alguma. Só não basta. Amor, por si só, não basta. Nunca bastou. Nem esse tipo de amor fraterno, sem cobranças, cheio de carinho que uma família e amigos podem oferecer. Não basta.

Sonhos, querer e lutar muito por algo... São coisas que eu não sei qual é a sensação. Não tenho sonhos. Não sei o que deveria fazer. Não tenho um plano, um objetivo ou algo que queira realizar antes das 15:10. Me voluntariar em uma ONG, viajar pelo mundo, conhecer pessoas... Parece clichê e algo não meu. Seria ótimo fazê-los, mas não sei se seria o suficiente. Me formar, ser reconhecida, ter prestígio no ramo que eu escolher seguir me parece ridículo. Eu seria uma profissional no máximo mediana, talvez diferente pra alguns que tivessem um olhar mais cuidadoso. E é triste. Às vezes, tudo o que poderia me fazer ficar seria algo no qual focar. Não sei, um desejo puro e individual igual ao de algumas pessoas por aí: abrir um comércio pequeno cheio de histórias; ficar de férias por seis meses e visitar qualquer outro estado que não o seu; ser apaixonada por outra cultura ao ponto de só o fato de ela existir na mesma época que você já de dar aquela motivação diária, aquela vontade de ficar.

Vontade de ficar. É isso.

Eu não tenho vontade. A qualquer hora, com qualquer sonho de um mês que eu tenha, eu poderia ir. A qualquer hora, com qualquer pessoa estreando no palco da minha vida, eu poderia ir. A qualquer hora, independente do que estivesse acontecendo. Eu iria. Pra falar que não iria imediatamente, talvez pegasse cinco minutos pra fazer alguma coisa boba igual um condenado à pena de morte: comer algo diferente, observar o céu de um jeito que eu ache nunca tenha feito ou meditar, quieta, sozinha. Mas poderia ir depois, eu juro.

Porque o que eu tenho, o que eu sou não me basta. E não consigo ver alternativas que me façam suficiente.
© terna tormenta
Maira Gall