sexta-feira, maio 17

a vigésima tormenta.


não me sinto pertencente
ou capaz de estar aqui
e nas raras ocasiões em que pareço presente
a presença é rodeada da sensação de ser a pior opção
(quando há a opção da opção).

poderia sentar
ficar quieta
olhar pro nada
pensar naquele nada que é o misto de cinquenta assuntos
sentimentos
sensações diferentes.

poderia ficar sem falar por dias
e só ouvir o mundo
ecoar
e silenciar
ecoar
e silenciar
por horas a fio.

parte de mim parece ter ficado
no limbo em que estávamos
antes de vir pra cá.

eu não me sinto completa
e não é por falta de alguém
algo
alguma coisa
ou seja o que for que possam culpar.

é por falta de mim.
a falta de algo que está
tão inalcançável,
tão inacessível,
que parece nem existir.

ai sou preenchida por vazio
na mais improvável incoerência

preenchida
por
vazio

uma palavra tão pequena, tão minúscula
que não deveria ter poder de preencher coisa alguma.
porém, veja só,
eu também sou pequena
e também me sinto minúscula.
© terna tormenta
Maira Gall