quarta-feira, janeiro 24

a décima tormenta.

Eu tenho certeza que vou morrer de saudades suas em alguns dias.

Que haverá dias nos quais eu vou querer correr pro seu colo,
dias nos quais eu irei reler coisas que você me escreveu,
dias nos quais parecerá que aquela determinada conversa só teria lógica sendo feita com você,
dias nos quais eu irei te stalkear só pra saber como sua vida está,
dias nos quais eu vou quase - quase - me arrepender de ter te deixado ir.

Mas eu sei que esses dias serão raros. Você já foi absurdamente importante pra mim, importante ao ponto de eu não saber o que era acontecer algo na minha vida e você não saber sobre isso uns minutos depois. Mas você optou - o p t o u, foi escolha sua mesmo - se tornar indiferente. Sumiu, me machucou inúmeras vezes com uma baixaria, com uma vontade de machucar que a gente não deveria ter com quem ama. Se tornou opcional você saber ou não o que fiz ou o que quero; opcional eu entender você e saber do seu dia. Opcional, pois você fez questão de deixar as coisas assim.

Por um lado, eu deveria agradecer. Só na sua ausência eu notei o tanto de coisas que aceitei vindas de você e que não deveria ter aceitado. Nunca. Deveria ter me imposto ou ido embora há muito tempo. Só que tinha algo viciante na sua companhia e eu não sabia o que era. Talvez, só talvez, você estivesse certa ao falar que eu não conseguia ficar sozinha, pois criei uma dependência maior de você exatamente nos meus piores momentos. E desculpa por isso, ninguém deveria ser usado como muleta.

Sei que te ajudei na sua pior fase e você tentou me ajudar na minha em todos os momentos que não estava me colocando pra baixo (o engraçado é me questionar se você se dava conta do quão pra baixo me colocava ou se era uma brincadeira da sua parte). Só que você se tornou uma memória. Eu sei disse porque reler o que você me escreveu parece ler algo de alguém que não conheço escrito pra outra pessoa que não sei quem é. Tudo vazio, sem sentido, sem a menor verdade no meio dos fonemas. Você optou por fazer com que as minhas saudades sejam tão rápidas e reflexivas que eu sinto saudade por um minuto e no próximo já lembro que você não estaria presente nem se estivéssemos conversando, que provavelmente estaria brigando comigo por alguma coisa ou me culpando por algo que não fiz. E eu lamento tanto, tanto por isso.

Uma das piores coisas que você me disse foi que, se todo mundo se afastava de mim, o problema era eu. Sei que serei a milésima pessoa que vai passar pela sua vida, ter uma conexão forte e ir embora por besteira sua. Eu sei, você me contou de todas as outras que passaram antes e eu fiz o impossível pra ser a exceção. Mas se todo mundo se afasta de você...

domingo, janeiro 21

a nona tormenta.

Ao mesmo tempo que foi meu karma, você foi minha comprovação de mudança.

Nossas conversas não eram contínuas, mas parecia que não precisávamos disso. Você viria me ver e passaríamos o ano novo juntos. Eu estava tão empolgada: tínhamos feito lista do que fazer, como fazer e eu já tinha desmarcado tudo com o mundo naquela semana pra ter mais tempo pra você. Todo mundo estava sabendo da minha animação pra te ver. Ai, pouco depois de um parabéns forçado, você sumiu. As contagens dos dias que faltavam pra você aparecer aqui eram feitas só por mim agora. Os links dos eventos eram enviados só por mim. E a conversa? Era um monólogo meu também.

Sumiu.

Não de todo lugar, não das redes sociais ou das outras pessoas, mas de mim. Eu me tornei mais uma na sua lista de visualizadas e não respondidas e eu não entendia o porquê. Não entendo ainda. O que tenho são só conjecturas sobre o que pode ter acontecido. Só que eu não me afastaria de você.

Não me afastaria porque eu fui você em outra situação e você foi o check que eu precisava pra ter certeza que mudei. Eu fui atrás depois, inclusive. Várias vezes. Te perguntei se estava tudo bem, se você continuaria só me visualizando. Te desejei feliz ano novo e parei. Não porque não acho que você valha a pena, mas porque não entendo. Não sei se fiz algo, falei algo ou se foi por coisa sua. Você nunca me explicou. Se o karma acontecer direitinho, talvez daqui um tempo você comece a desabafar em textos e venha no meu privado esporadicamente tentar se explicar.

E eu vou entender.

Mas não pense que vou agir de boa, porque não vou. Eu te entendo e ainda te quero comigo, mas estou brava pra caralho com você. Puta mesmo. E tem muitos meses de frustrações e perguntas dentro de mim pra você ouvir antes de ouvir que estou com saudade e antes de me ouvir agradecer por ter me machucado tanto. Porque eu não concordo com aquilo de que não devemos agradecer alguém que te destruiu porque essa pessoa te tornou mais forte. Tem arroubos que valem o estrago.

Eu só te peço que, se tiver que vir, venha logo. O nosso temperamento é parecido até nessa mania ridícula de querer afastar quando nos amam de verdade, mas siga um último conselho: não faça isso. Fale que se arrependeu e não me deixe seguir em frente. Não me deixe ir. Não me deixe parar de te amar. Eu entendo você me magoar, entendo sua insegurança acabar refletindo em frieza e eu entendo se tiver magoado você de alguma forma pra que isso tenha acontecido, mas não dá pra forçar alguma coisa se você optar por se tornar indiferente.

sábado, janeiro 20

a oitava tormenta.

O engraçado é que jamais me pensei como alguém que não superava. Que meses depois ainda pensa em alguém porque vê algo que lembra ela, algo que ela com certeza gostaria ou que comentaram juntas na época em que conversavam. E eu te falava isso do mesmo jeito que você me falava. A gente não era do tipo que não superava - esse foi o início de muitas conversas e reflexões nossas; um dos inúmeros quesitos nos quais a gente batia e conseguia se entender.

Mas me tornei essa pessoa. A que não supera. A que não consegue deixar ir porque todo dia - todo bendito dia - vê algo que lembra você, ouve algo que você gostaria de ouvir, lê algo que a gente compartilharia e seria aquele negócio engraçadinho de "ah, eu vi, já ia te mostrar". Só que não tem mais graça. O que tem é um buraco, enorme, que nada preenche. Que ninguém preenche.

Acho que não fazia ideia do espaço que você ocupava até você ir embora. Não fazia ideia da importância que você tinha até eu não ser mais importante pra você. Não tinha noção do quanto ser a pessoa que não supera é pesado, difícil, desgastante até que me tornei a pessoa que fala de você pra quem quiser ouvir. Não é que não te valorizasse ou coisa do tipo. Lá no fundo, se eu fosse ter que achar um porquê, acho que queria não ter uma exceção. Não queria que você fosse a minha exceção pra regra "sou uma pessoa que supera", mas você é. E o problema não foi só eu ter ido embora, foi ter preparado o território pra não voltar; ter te magoado pra eu não ter chance de ter uma exceção à regra. Foi ter me sabotado e te desolado na mesma tacada.

Todo mundo sabe que a culpa foi minha. Todo mundo sabe quem é você, o que eu fiz e o quanto isso acaba comigo. Todo mundo, pode perguntar por aí. Eu me tornei a pessoa que não supera e tá tão estampado na minha cara que, do nada, me perguntam "e a fulana?" ou me questionam se você é o motivo de eu estar mal. Eu, logo eu, virei essa pessoa. Se me falassem isso há um ano atrás eu riria, acharia o cenário impossível. E cá estamos.

Esse foi o seu gesto mais altruísta: me fazer mudar. Não me achava imutável ou qualquer coisa do tipo antes de você - "antes de você", tem esse outro detalhe na minha vida agora -, mas você modificou coisas que eu achava intrínsecas a mim; coisas que eu só consegui mudar porque você me fez ver que eram necessárias (e fez isso, ironicamente, quando não estava mais aqui e sem dizer uma palavra). Comecei a me policiar tanto com algumas atitudes que parece que te tenho como uma memória, rebobinada constantemente na minha cabeça, do que não fazer, de como não agir e de como não tratar alguém.

Mas tudo bem. Há mudanças que as pessoas não são obrigadas a aceitar e riscos que não são obrigadas a correr; eu sou um deles. No meio de toda essa bagunça, o que eu espero é que você ache um colo e alguém que te dê conforto. Eu sei que te tirei um colo, da mesma forma que perdi. Que te tirei um conforto, da mesma forma que me parece impossível achar alguém em todo esse mundo com o qual eu fique totalmente relaxada. Mas você é alguém que merece se sentir abraçada e segura continuamente, principalmente quando tiver aqueles pensamentos bobos e sem fundamentos que passam por essa cabecinha ou quando achar que é a pior pessoa do mundo - tá longe de ser, tem um limbo enorme entre você e as piores pessoas.

[...]

Não. Pensando bem, estou um pouco longe desse estágio ainda. No fundo, tudo é uma tentativa desesperada de ainda ser um colo pra você.

(eu disse que me tornei a que não supera?).

domingo, janeiro 14

sétima tormenta.


Ultimamente o meu passatempo é deixar tudo aqui dentro o mais bonito, sincero e confortável possível na esperança de que um dia você volte e possa ver.

E isso me mata pouco a pouco da mesma forma que me fortalece.

Não há previsão da sua volta, tampouco certeza se ela ocorrerá. Posso esperar por outros meses e esses meses se desdobrarem em anos na doce ilusão de que um dia terei você por perto de novo, mas não sei se suas palavras foram sinceras. Não me veja mal, não quero dizer que duvido do que você me falava ou de suas promessas - duvidar de você me parece tão inviável quanto alcançar lugares altos. Só que eu sei que você duvida das minhas.

A sua dúvida quanto ao que falo e sinto é o que nos afasta. E eu queria que a culpa fosse sua por isso (seria um conforto; na incapacidade de admitir meus erros e culpas, acabei por colocar tudo sob sua guarda e criar essa situação. Por vezes, a única coisa que queria é ignorância quanto a antigas atitudes de modo que eu possa ficar confortável com elas de novo. Leigo engano, uma vez que estamos cientes dos erros e vícios - como o de externalizar o problema e não entendê-lo como seu - é difícil, se não impossível, ignorá-los) e esse acaba por ser mais um tópico na lista dos itens pelos quais te devo desculpas.

Mas vê que seria mais fácil? Se a culpa fosse realmente sua, eu me desculparia por tê-la afastado e você se desculparia por ter me magoado se alguma forma. Se você tivesse alguma culpa, a balança estaria equilibrada e tudo poderia ser perdoado, poderíamos seguir. Mas ela pende pro meu lado. Totalmente. A culpa é minha em todas as situações que me recordo e as desculpas que me foram dadas vindas de você não foram mais do que educação da sua parte, pois você não as devia pra mim.

Tento arrumar tudo de modo a parecer seguro pra você me visitar de novo.

Há um texto seu - escrito pra mim, na época em que era sortuda e parecia não me dar conta - no qual você descreve sobre como é andar de mãos dadas comigo. Há uma parte que diz, e aqui irei parafrasear pra não cometer o erro de expô-la, que você não sente medo que eu largue sua mão, pois sabe que uma hora eu volto por sentir saudade de ti durante todo o tempo em que não estava com sua mão na minha e que você estará lá pra mim.

Me dói. Me rasga por dentro todas as lembranças que tenho de você e toda a saudade que me consome de não te ter por perto. De saber do seu dia apenas alguns resquícios, de entender de você e suas mudanças apenas o pouco que você expõe. Me acaba ter soltado sua mão e não voltado no minuto seguinte. Me desgasta andar sozinha e não ter você por perto pra apreciar a bagunça e confusão que é a vida e o tanto que isso a torna bonita. Me desola não saber das suas aflições e não ter ideia dos seus atuais receios.

Piora toda a situação não conseguir te culpar. Por coisa alguma. Arrumar tudo e tentar ser a melhor versão de mim ciente de que você pode não ter interesse em ver e saber o que foi mudado. Reler tudo incansavelmente ciente de que você pode nem mesmo se lembrar do que escreveu e, se reler o que foi escrito, não ter o mesmo significado pra você. Sentir exatamente o mesmo amor que sentia quando te deixei ir e não ter ideia da reciprocidade (ou da falta dela).

Mas tento conviver com isso. Com todo o esforço ser em vão e você não voltar. Ou com o fato de você se sentir confortável apenas passando por aqui e indo embora assim que se lembrar de tudo o que te privou de ficar. Com não poder participar da sua vida. Com não ser agraciada com seus devaneios. É horrível, às vezes me parece um fardo maior do que a consequência que mereço, mas eu convivo e tento atingi-la o mínimo possível quando não consigo conviver. O que realmente me destrói é saber que só a indiferença pode te trazer de volta.
© terna tormenta
Maira Gall