domingo, janeiro 14

sétima tormenta.


Ultimamente o meu passatempo é deixar tudo aqui dentro o mais bonito, sincero e confortável possível na esperança de que um dia você volte e possa ver.

E isso me mata pouco a pouco da mesma forma que me fortalece.

Não há previsão da sua volta, tampouco certeza se ela ocorrerá. Posso esperar por outros meses e esses meses se desdobrarem em anos na doce ilusão de que um dia terei você por perto de novo, mas não sei se suas palavras foram sinceras. Não me veja mal, não quero dizer que duvido do que você me falava ou de suas promessas - duvidar de você me parece tão inviável quanto alcançar lugares altos. Só que eu sei que você duvida das minhas.

A sua dúvida quanto ao que falo e sinto é o que nos afasta. E eu queria que a culpa fosse sua por isso (seria um conforto; na incapacidade de admitir meus erros e culpas, acabei por colocar tudo sob sua guarda e criar essa situação. Por vezes, a única coisa que queria é ignorância quanto a antigas atitudes de modo que eu possa ficar confortável com elas de novo. Leigo engano, uma vez que estamos cientes dos erros e vícios - como o de externalizar o problema e não entendê-lo como seu - é difícil, se não impossível, ignorá-los) e esse acaba por ser mais um tópico na lista dos itens pelos quais te devo desculpas.

Mas vê que seria mais fácil? Se a culpa fosse realmente sua, eu me desculparia por tê-la afastado e você se desculparia por ter me magoado se alguma forma. Se você tivesse alguma culpa, a balança estaria equilibrada e tudo poderia ser perdoado, poderíamos seguir. Mas ela pende pro meu lado. Totalmente. A culpa é minha em todas as situações que me recordo e as desculpas que me foram dadas vindas de você não foram mais do que educação da sua parte, pois você não as devia pra mim.

Tento arrumar tudo de modo a parecer seguro pra você me visitar de novo.

Há um texto seu - escrito pra mim, na época em que era sortuda e parecia não me dar conta - no qual você descreve sobre como é andar de mãos dadas comigo. Há uma parte que diz, e aqui irei parafrasear pra não cometer o erro de expô-la, que você não sente medo que eu largue sua mão, pois sabe que uma hora eu volto por sentir saudade de ti durante todo o tempo em que não estava com sua mão na minha e que você estará lá pra mim.

Me dói. Me rasga por dentro todas as lembranças que tenho de você e toda a saudade que me consome de não te ter por perto. De saber do seu dia apenas alguns resquícios, de entender de você e suas mudanças apenas o pouco que você expõe. Me acaba ter soltado sua mão e não voltado no minuto seguinte. Me desgasta andar sozinha e não ter você por perto pra apreciar a bagunça e confusão que é a vida e o tanto que isso a torna bonita. Me desola não saber das suas aflições e não ter ideia dos seus atuais receios.

Piora toda a situação não conseguir te culpar. Por coisa alguma. Arrumar tudo e tentar ser a melhor versão de mim ciente de que você pode não ter interesse em ver e saber o que foi mudado. Reler tudo incansavelmente ciente de que você pode nem mesmo se lembrar do que escreveu e, se reler o que foi escrito, não ter o mesmo significado pra você. Sentir exatamente o mesmo amor que sentia quando te deixei ir e não ter ideia da reciprocidade (ou da falta dela).

Mas tento conviver com isso. Com todo o esforço ser em vão e você não voltar. Ou com o fato de você se sentir confortável apenas passando por aqui e indo embora assim que se lembrar de tudo o que te privou de ficar. Com não poder participar da sua vida. Com não ser agraciada com seus devaneios. É horrível, às vezes me parece um fardo maior do que a consequência que mereço, mas eu convivo e tento atingi-la o mínimo possível quando não consigo conviver. O que realmente me destrói é saber que só a indiferença pode te trazer de volta.

Nenhum comentário

Postar um comentário

© terna tormenta
Maira Gall